Carta Psicografada de Jô Soares
Meu último roteiro
“Quis o destino que secasse a minha árvore genealógica, e que não houvesse mais acesso em meus degraus genéticos do DNA para que se subisse o processo evolutivo. Fui filho único, e único filho produzi, fazendo assim com que extingue-se quaisquer traços de minha existência na terra, salvo a persona que criei, do qual eu creio que ainda atravessará décadas. Aqui, onde me sinto bem quisto e em processo de entendimento sobre o todo, pude ver o meu único e abençoado fruto que madurou e subiu (em vez de cair), em toda a sua plenitude e paz, e sem as mazelas que a matéria lhe conferiu por erros genéticos quando na terra. Quão bom é poder tocar sua face de novo, meu filho Rafael Soares ainda que ela seja pura luz e emanar uma energia do qual nunca senti antes, sei que é você em toda a sua inocência de criança. Do que me foi revelado ao adentrar está gloriosa dimensão, já me arrependo do ato crematório não por efeitos espirituais, e sim por causas tecnológicas futuras e terrenas, pois privei assim a ciência de garimpar o pó da terra me trazendo de volta anatomicamente. (Agora compreendo a máxima do Gênesis que somos pó e ao pó voltaremos). Aos que ficaram na dimensão terra que tem apenas a distância de metros do céu, pois este mundo paralelo é a mente, quero alertar para aquela que virá dizendo que tem um filho do qual sou o suposto pai, mais pelo interesse de minhas conquistas do que pelo desejo de me honrar como um viril homem. Se fecharam as cortinas para mim, assim como as minhas pálpebras, e se apagaram as luzes da ribalta, assim como as dos meus olhos, porém, ao abrir o olho alfa me vi em um paraíso indescritível e imensurável, com seus milhares de pontos de luzes de espíritos semelhantes às miríades de estrelas que contemplava na terra em dia de noite limpa. Gratidão por Flávia, que foi pedra firme sob meus pés já frágeis, e flores às demais mulheres que perfumaram minha vida e fizeram raiar os meus dias. Dos valores que já não me importam mais, que se abram os inventários, pois o mesmo surpreenderá à muitos. A balança pesará na medida certa, seja na caridade, fidelidade, amizade ou honestidade, pois cada qual terá sua parcela. Não procurem pelo modo em que parti, e sim pela maneira em que vivi, pois escolhi o sorrir ao invés do chorar. Se meu sobrenome dizia Eugênio, o que impediria eu de ser um Gênio? Talvez só o tamanho da garrafa.
José Eugênio Soares.
Comentarios