Psicografia recebida no dia 13 de junho, através do médium Alaor Borges no Centro Espírita Irmã Valquíria em Uberaba, Minas Gerais.
Querida mãezinha Adriana e meu pai Assan. Peço a Deus que me guie as mãos nesse momento tão difícil, em que compareço num cenário, onde o sofrimento é ponto comum no coração de todos. Sinceramente não consigo escrever com toda a desenvoltura de que gostaria.
As ideias me fogem da cabeça e se não fosse o Vovô Uthman, acredito que não conseguiria compor um parágrafo que fosse. Vejo a querida irmã Gabi, aqui presente, e também transmito toda a ternura a Paloma, a irmã querida.
Mãe, fizemos eu e o Matheus, tudo o que foi possível para tentar nos salvar, mas a senhora deve imaginar o quanto ficou difícil qualquer fuga, em meio ao tumulto ocorrido no interior da boate, conhecendo-me como conhece, sabe o quanto sua Dani era batalhadora, ousada mesmo, entanto quanto os demais outros jovens, tentamos a fuga e a possível salvação, mas não foi possível.
O que lhe asseguro é que eu e o Matheus estivemos juntos o tempo todo, mas aos poucos, as forças foram faltando, e o ar se tornou pesado e o coração não resistindo parou no peito a contragosto porque viver era o que eu e todos os outros queríamos.
Eu sei o quanto o assunto se torna tão vivo e presente em nossas lembranças e acredito mesmo, que muitos pais, quais vocês mesmos, estão de corações doloridos, e esperam esquecer o fato, mas a imprensa sensacionalista, explorando todos os aspectos que pode, não nos deixam esquecer.
Mas como foi dito pelo Guilherme, também desejo vê-los longe de quaisquer protestos, precisamos mesmo de descanso, de recompor as forças e de esquecer um pouco da tragédia de Santa Maria.
Meus pais, vocês não imaginam o quanto me esforço pra lhes escrever na noite de hoje, o que lhes asseguro, é que, as minhas ideias estão vagas e não consigo me concentrar como de fato que desejava.
O Bisavô Antônio também me acompanha durante este processo de escrita que neste momento está ocorrendo.
Espero encontrá-los a partir de hoje mais fortalecidos, a ponto de reviverem para a vida.
Eu sei a falta que em casa faço, mas de agora, ou melhor, de janeiro para frente, estamos aprendendo a viver sem a presença mais afetiva uns dos outros, você e meu pai já não ouviram, o meu "mãe" e o meu "pai" e deverão se privar do meu abraço, das minhas bicotas, dos meus selinhos e também das minhas chatices de vez em quando.
As meninas igualmente estarão privada de tudo isto. Mas eu também.
Mas estou viva, e peço que não fixem as atenções de vocês, no que passei nos últimos instantes no corpo, mas que imaginem que estou viva e que vou superando aos poucos, tudo quanto ocorreu.
Estou melhorando e só a saudade é que me maltrata tanto.
Vamos vencer meus pais, vamos sair dessa, porque, não somos criaturas acomodadas.
De pé nós iremos ficar de novo.
Foi uma fatalidade o que nos ocorreu.
Acredite que eu estava no lugar certo e na hora devida, mas se cumpriu as leis divinas, ou melhor, as leis de causa e efeito.
Você mãe, não imagina o quanto, Santa Maria, naquela madrugada, foi visitada pelos anjos do Senhor.
Além dos bombeiros e voluntários, que os olhos humanos enxergaram uma multidão de voluntários do outro plano, estavam presentes e uma freira católica que trabalhou muito naquele dia, junto ao padre Antônio Vieira, foi a nossa irmão Maria da Consolação.
Agradecemos a proteção divina, que esteve atuante por detrás dos bastidores da tragédia que nossos olhos viram.
Sua menina está com saudades.
Choro muito.
Quanto a vocês, nossos sonhos, nos parecem que foram consumidos pelas chamas que nos vitimou.
Agradeço todas as homenagens que nos fizeram, mas acredito que de momento estamos precisando de muitas orações.
E peço q todos os brasileiros que orem por nós.
Beijos meus pais e irmãs.
Da filha cheia de saudade que preocupada retorna para lhes reafirmar o quanto eu os amo, e que estou bem.
Dani,
Daniela Betega Ahmad.
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